Salvo engano, a crítica literária é um espaço fronteiriço capaz de reunir diversas áreas do conhecimento. Hoje fortemente atrelada à instância universitária, devido sobretudo à diminuição do espaço público antes aberto à figura do estudioso das letras, tem sido cada vez mais relegada à categoria de “atividade complementar”. Mas na América Latina nem sempre foi assim: da forte participação ativa na imprensa no século XIX; passando pela atuação decisiva na cena intelectual do início do século XX; chegando à institucionalização do campo no pós anos 1950, quase sempre a figura do crítico literário foi decisiva na conformação da ideia de cultura.
A ideia deste espaço, contudo, é resgatar a dimensão crítica dos estudos literários. Nosso foco recairá, do ponto de vista temporal, nos séculos XIX e XX; e na dimensão espacial, no contexto da América Latina. Nosso grande corte transversal é pensar a dimensão formativa que decorre da atividade de crítico literário na periferia do capitalismo.
O contexto do século XIX apresentou-se como o momento de formação das nações latino-americanas a partir dos processos de independência. A primeira grande dificuldade foi definir os parâmetros culturais, identitários e históricos que dessem corpo e sentido às nacionalidades emergentes. Para isso, a literatura foi instrumento fundamental para construir imagens simbólicas e representativas do passado e do presente e, em alguns casos, para projetar futuros possíveis e desejáveis.
No século XX, esta dimensão crítica expandiu-se: na proximidade com o ensaio, tornou-se fundamental pensar a história literária das nações da América Latina, conformando a ideia de formação que encaminhasse os países à ideia de modernidade. Essa atividade intelectual atuou ainda na esfera pública, em jornais, revistas, congressos e eventos em geral. Aos poucos, porém, ela foi se institucionalizando e tornando-se mais acadêmica, mais “científica”.
É o momento da consolidação do campo dos estudos de literatura na Universidade. Surgem os primeiros professores-críticos, construindo obras, consolidando debates teóricos, apontando caminhos metodológicos e, sobretudo, investindo na ideia de pesquisa, sobretudo na pós-graduação.
Esses três instantes indicam uma questão primordial: a figura do crítico literário foi decisiva na construção de ideias no cenário latino-americano. Ao conjugar sociologia, antropologia, história, filosofia, dentre outras disciplinas, foi capaz de pensar, agir e interferir na dinâmica da realidade social que nos circunda.
Por isso, a ideia deste blog é resgatar tais escritos. Colocar como centro de nossas análises as providências da produção intelectual que pensou a literatura a partir da relação entre estética e mundo material, aproximando e entrosando os países da América Latina em projetos de construção de uma história crítica desde a periferia.